Sindicato dos Servidores das Autarquias de Fiscalização Profissional e das Entidades Coligadas no Estado do Rio de Janeiro

O “grito forte dos Palmares que correu terras, céus e mares”, eternizado samba da Vila Isabel que conquistou o Carnaval de 1988, ainda aquece a alma na luta contra o racismo. Já corre o ano 19 do século XXI, mas continuamos com esta doença social entranhada nas mentes de indivíduos e instituições brasileiras.

“Olha a sua cor!”, vociferou há poucos dias um torcedor do Atlético-MG para o segurança. A injúria racial gravada e viralizada pelas redes sociais da internet nos choca, mas também é óbvia em nossa sociedade estruturada em Casa Grande e Senzala. Após a repercussão de mais essa ofensa, temos a impressão que ninguém nunca ficou preso por este crime. A impunidade alimenta algo que precisa ser combatido nas raízes de nossa cultura, repudiado em todos os lares, escolas e ambientes de trabalho.

O racismo não é um mal exclusivo do Brasil! Infelizmente, está vivo e crescente em várias partes do mundo, onde cresce a intolerância, a competição por emprego e o fascismo com teorias de raças puras e donas de uma pseudo-superioridade. Mas, aqui, em nosso país, a história nos dá o diagnóstico deste câncer. Os negros africanos trazidos à força para este lado do Atlântico permaneceram por gerações sob o jugo da escravidão. Foram 388 anos de “cativeiro legal” até a Lei Áurea. Mas esta alforria não veio com qualquer programa para amparar, acolher ou capacitar profissionalmente os recém-libertos. Eles foram lançados à própria sorte e muitos continuaram escravos, por não saber o que fazer com essa tal liberdade.

É possível dizer que o Império queria “embranquecer” esta pátria, trazendo colonos estrangeiros e apostando que os negros fossem dizimados pela fome e a miséria. Em 1824, a primeira constituição brasileira definia liberdade e igualdade como direitos inalienáveis, ignorando 1 milhão de cativos. Eles podiam ser vendidos como mercadorias e ainda sujeitos ao açoite, às correntes e à marcação do corpo em ferro e brasa. Nós somos esta nação caricata que, às vezes, faz de conta que isto ou aquilo não existe. Que consagra algo como lei, e suporta outro tipo de comportamento.

Tão contestadas pelos meritocratas de plantão, as ações afirmativas já deram os primeiros frutos positivos. O IBGE constatou que a maioria dos alunos das universidades públicas é de negros. As cotas não precisam durar para sempre, mas representam um pontapé em busca da igualdade. O passado do Brasil não dá mais para mudar, mas o nosso presente pode ser cheio de cores, raças, etnias; todas respeitadas e com as mesmas oportunidades de todos.

Adjarba Oliveira
Presidente do Sinsafispro

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